Artigo: Celular em sala de aula pode ser instrumento de trabalho, mas uso precisa ser previamente definido

Psicólogas do Serviço de Atendimento Psicológico (SAP) do Curso Anglo analisam a utilização dos equipamentos e como eles devem ser aliados de alunos e professores

*Por Mayra Temperine, Paula de Santos e Bárbara de Souza

O desenvolvimento de novas tecnologias e o aprimoramento constante das mesmas são parte de uma realidade inegável e irreversível. Esse progresso tecnológico traz novos paradigmas para as relações humanas (com o outro e consigo mesmo). Por exemplo: é possível, independentemente da distância física entre duas pessoas, saber em tempo real sobre seu estado de humor ou de saúde ou onde está e o que está fazendo naquele exato momento. Mas há um prejuízo que se dá justamente na perda do contato físico com o outro, na vivência da relação que é sentida na presença corporal do outro, que é muito importante na aprendizagem de limites e conduta social, por exemplo.

Os aparelhos celulares e as tecnologias podem ser um recurso fantástico para os alunos acessarem bibliotecas e bancos de dados fisicamente distantes e que talvez, sem esse recurso tecnológico, nunca seriam acessados. Nesse processo, o professor é fundamental no direcionamento das ações e problematização quanto aos conteúdos, visto ser essa criticidade algo a ser desenvolvido para que se possa avaliar e selecionar as informações.

O papel do professor como o mediador do que os alunos poderão fazer com o celular nas salas de aula é desafiador e requer uma definição de que forma é possível este uso: qual sua finalidade, em quais contextos e disciplinas. Neste sentido, para além de uma lei que libera o uso do celular é importante refletir se terá alguma pré-definição do Estado para este uso ou mesmo um trabalho de capacitação para os professores, para que embase melhor os manejos e objetivos desta ferramenta neste novo contexto.

O aprendizado crítico sobre o uso dessas tecnologias também precisa passar pela problematização quanto à vulnerabilidade das informações e à exposição pessoal a que se fica sujeito, especialmente considerando o público adolescente, com todas as suas singularidades.

O celular deve ser tomado como instrumento de trabalho, sua finalidade e uso precisam ser previamente definidos. Além dessas diretrizes, no âmbito da sala de aula é necessário estabelecer certas regras de convivência, fundamentais para organizar o grupo e alcançar os objetivos propostos para cada lição. Tais regras podem fazer mais sentido se construídas na coletividade, assim o grupo de estudantes passa a compreender melhor seus limites e estabelecer possíveis advertências para o seu descumprimento.

Esta construção coletiva das regras e advertências também vale para a criação das iniciativas pedagógicas que envolvem o desenvolvimento de habilidades digitais. Se são os alunos os mais familiarizados com a linguagem digital, por que não os estimular a desenvolver algumas propostas de atividades? É importante salientar que o uso do celular facilita o acesso a informações, mas a reelaboração das informações no processo de construção do conhecimento é pessoal e intransferível. Poder acessar um grande número de informações não é sinônimo de aprender.

*Mayra Temperine, Paula de Santos e Bárbara de Souza são psicólogas do SAP (Serviço de Atendimento Psicológico) no Anglo Vestibulares, em São Paulo

 

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