Como os emojis estão reinventando as formas da escrita?

Escrita com figuras no meio tecnológico lembra a escrita cuneiforme e ressignifica o uso de imagens para a comunicação

Os sumérios, um dos povos que viveram na Mesopotâmia, na Antiguidade, desenvolveram a escrita cuneiforme, que usava imagens para representar, não pensamentos, mas objetos e situações concretas. Da mesma forma, hoje, no século XXI, os emojis retomam os desenhos como forma de comunicação.

“A escrita partiu do desenho, passou por um processo evolutivo gigante, e hoje as imagens voltam a ser usadas como complemento das palavras”, diz Cristina Tempesta, autora de Língua Portuguesa do Sistema Anglo de Ensino, que deu uma palestra sobre o tema no Congresso Nacional de Educação Infantil e Fundamental I do Anglo, em abril deste ano, em São Paulo. “Fiz uma analogia entre a escrita cuneiforme e os emojis, pois ambos propõem a comunicação por imagens.”

Na ocasião, Cristina havia sido convidada para falar sobre alfabetização e os impactos trazidos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que reforça a ideia de que alfabetização (a parte técnica da leitura e escrita) e letramento (o uso social) são indissociáveis. “De acordo com a BNCC, a alfabetização tem um espectro amplo, que vai além de ensinar a relação entre fonema e grafema, e deve considerar as diversas formas de comunicação que usamos no cotidiano — os emojis, por exemplo”, conta. Segundo ela, a escola, atualmente, tem que promover muitas alfabetizações e precisa considerar e reconhecer essas novas formas de comunicação.

“Para a geração de hoje, a imagem é tão forte que, mesmo tendo o recurso da palavra, que consegue representar o pensamento, vemos as pessoas recorrerem ao uso da imagem, no caso os emojis”, diz Cristina. Antes dos emojis, ela lembra, os adolescentes já usavam as pontuações para fazer as carinhas, como os dois pontos e o parênteses. “Para essa geração, uma imagem vale mil palavras”, afirma.

Ela não considera esse movimento um enriquecimento dos instrumentos de comunicação, que se relaciona, no que tange ao uso de representações gráficas, com o que era feito lá nos primórdios. “Os sumérios não tinham palavras, e as imagens eram a única ferramenta para exprimir sua rotina. Hoje, apesar da amplitude do poder de comunicação da palavra, o uso do desenho volta a ganhar força. Mas não mais como única ferramenta, e sim como escolha, como mais um recurso de que dispomos, dentre tantas outras opções. Isso nos faz pensar como o conceito de desenvolvimento não pode ser visto como algo linear, mas sim multifacetado. A representação gráfica da escrita dos sumérios pode ser lembrada dentro dos textos multimodais que vemos ser produzidos hoje”, ressalta.

Segundo ela, para ter liberdade de comunicação, tem que ter diversas ferramentas. Cada uma vai atender uma demanda diferente, vai ser usada em momentos diversos. “O uso das palavras certamente é a forma mais completa, mas, às vezes, a pessoa quer acrescentar um desenho, e isso faz muito sentido para essa geração”, conclui.

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