Prática permite a formação de pessoas críticas, que não veem os conceitos como verdades prontas e acabadas
*Por Renata Guzzardi
Não é mais nenhuma novidade para os educadores que o processo de aprendizagem se dá, sobretudo, quando o aluno consegue relacionar os conceitos das disciplinas com aquilo que acontece na vida real. Ou seja, quando ele percebe que existe uma relação intrínseca entre vários conteúdos de literatura, arte, música, ciências, conceitos matemáticos e análises históricas ou geográficas. Portanto, a interdisciplinaridade na escola é uma extensão do que acontece na vida. Neste momento se dá a aprendizagem significativa, pois quanto maior o número de links feitos entre os conceitos e a vida prática, mais o aluno se apropria destes conhecimentos.
O conceito de interdisciplinaridade nada mais é do que resgatar o que há de comum em diferentes disciplinas, propondo uma nova postura frente ao conhecimento a ser adquirido pelo aluno, em busca da formação integral da pessoa. É através dessa perspectiva que a interdisciplinaridade surge, como forma de superar a fragmentação entre as disciplinas, relacionando-as entre si para a compreensão da realidade.
Embora conhecida pelos educadores há décadas, a prática continua sendo pouco trabalhada nas salas de aula, porque depende da metodologia adotada pela escola. Algumas focam no desenvolvimento de projetos interdisciplinares e, em alguns casos, nem mais segmentam o conhecimento em disciplinas tradicionais. Mas são raras. Outras, por exemplo, mantém o currículo estruturado em disciplinas, porém, realizam projetos que permitem que os professores trabalhem em conjunto. Nesse caso, cada docente aproveita as contribuições que seu conteúdo pode oferecer para que os alunos compreendam um tema central. Existem diversas possibilidades, mas é importante ressaltar que nenhuma delas é certa ou errada, melhor ou pior, visto que todas têm sua contribuição para o ensino-aprendizagem. O importante é que seja adequada à realidade da escola e à sua proposta pedagógica.
O maior benefício da interdisciplinaridade está na formação de pessoas críticas, que não veem os conceitos como verdades prontas e acabadas, visto que cada um “acomoda” determinado conhecimento a partir das bagagens de vida que trazem consigo. Esse processo resulta em pessoas com alto senso crítico, que perguntam, colocam hipóteses e constroem suas respostas. Ou seja, resulta na formação de seres que pensam. São essas pessoas que farão a diferença para o mundo, que em toda sua caminhada buscarão a construção de espaços melhores não para si, mas para todos porque, em tese, serão dotadas de alto grau de empatia e responsabilidade social, ambiental e até emocional.
Também existem alguns desafios para que a proposta possa ser implementada. O primeiro deles, é ampliar a compreensão que os professores têm a respeito do conceito e despertar o desejo de realmente transformá-lo em realidade. O segundo desafio é a reunião dos docentes das diversas disciplinas, para que identifiquem temas convergentes e proponham formas de abordá-los.
No entanto, do ponto de vista organizacional, este trabalho deve constar no planejamento anual dos professores e, sendo assim, o ideal seria estar formatado no início do ano letivo.
Vale lembrar que a BNCC aponta para a necessidade de novas posturas e comportamentos diante do conhecimento científico pedagógico. No entanto, o método em si não está descrito no documento, ficando a critério das escolas garantir, através das habilidades contempladas em todos os componentes curriculares, que as aprendizagens essenciais que todos os alunos têm direito de adquirir se deem durante a Educação Básica.
A interdisciplinaridade é um método que possibilita a formação humana em suas múltiplas dimensões, a fim de garantir o crescimento do aluno como cidadão e qualificá-lo para o mercado de trabalho.
*Renata Guzzardi é assessora pedagógica do Sistema Anglo de Ensino, jornalista, pedagoga e pós-graduada em gestão escolar