Cerca de 80% dos docentes da educação básica são do sexo feminino; mulheres estão a frente do desafio de formar os futuros cidadãos, o que também exige capacitação contínua
No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher (8 de março), vale lembrar que elas constituem a maioria dos educadores do país. Segundo o Censo Escolar 2019, do Ministério da Educação (MEC), cerca de 80% dos 2,2 milhões de docentes da educação básica brasileira são do sexo feminino. Na Educação Infantil e Ensino Fundamental I, a proporção de mulheres entre os professores chega a quase 100%.
Para Maria Célia Assumpção, psicopedagoga e autora de material didático da Educação Infantil do Sistema Anglo, é preciso compreender esse fenômeno dentro de uma perspectiva histórica. Segundo ela, no Brasil, a formação de docentes para a Educação Infantil sempre foi precária ou quase inexistente. Tinha, basicamente, o caráter assistencialista, apenas do cuidado, o que ainda persiste em escolas pelo país.
“Quando a mulher ingressa no mercado de trabalho, ela precisa deixar os filhos com alguém. Surge então a necessidade de recrutar mulheres que têm a experiência empírica de cuidar dos próprios filhos, que transpõem essa competência maternal para prestar cuidados remunerados para outras mulheres. Por isso há essa predominância feminina”, explica a autora. “Os requisitos mais importantes para essa função eram paciência, capacidade de expressar afeto e firmeza para coordenar um grupo de crianças. Não se exigiam conhecimentos mais elaborados”, completa.
Foi apenas com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), em 1996, que a Educação Infantil passou a ser reconhecida como parte integrante da educação básica. “Lança-se um novo olhar para esse nível de ensino e surge a exigência do professor cursar Pedagogia para atuar na pré-escola, mas as creches ainda ficam fora disso”, observa a educadora. “Essa formação, essa diferenciação para poder estar a frente de um grupo de crianças, é um fator de empoderamento das professoras.”
A partir desse momento, começa um debate na sociedade sobre a questão de haver apenas mulheres ensinando as crianças. É quando começam a surgir professores para algumas aulas, como educação física e música. “Ainda hoje é raro encontrar homens que trabalham na Educação Infantil. A gente conta nos dedos quando há um professor homem. Num grupo de 100, por exemplo, tem uns dois, mas muitas vezes são gestores”, diz Maria Célia.
Para ela, o fato da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental estar mãos das mulheres significa também um grande poder e responsabilidade para as professoras no que diz respeito a contribuir para o avanço e a melhoria da qualidade da educação no país.
“É na fase até os seis anos, por exemplo, que a criança constrói todos os padrões de aprendizagem que vai usar pelo resto da vida. Então, o processo de ensino e aprendizagem tem que ser instigante e despertar a curiosidade. É muito importante que a criança se apaixone pelo conhecimento e pelo aprendizado”.
Para cumprir bem esse papel, a formação docente é fator fundamental, não só na área pedagógica, mas na sua capacidade de dialogar com o mundo. Isso inclui, por exemplo, combater preconceitos de qualquer tipo — racismo, de gênero, religioso, socioeconômica –, contemplar regionalidades e saber lidar com as diferenças.
“Isso deve permear toda a sua formação para que o professor possa levar essas perspectivas para a sala de aula, atender as especificidades da sua classe e ajudar as crianças a se tornarem cidadãos”, conclui a educadora.