A busca de soluções para problemas permite levantar hipóteses, realizar experimentos e testá-las; educação científica dá condições para que alunos interpretem o mundo a partir da ciência e a valorize
A ciência está no nosso dia a dia, e usamos o método científico, como forma de investigação de uma solução para problemas do cotidiano, o tempo todo. José Manoel Martins, autor de ciências do Sistema Anglo, explica que curiosidades, dúvidas e observações como “por que não podemos beber água do mar?”, “por que bater o cotovelo dá choque” e “por que a pipoca estoura?” podem nos levar a estabelecer uma hipótese, realizar um experimento para testá-la e confirmá-la ou não.
“Se a hipótese for confirmada, você vai criar evidências em relação a ela, mas se ela não for, você vai refazê-la e, assim, a ciência vai caminhando. Algo muito importante é que não existe uma verdade absoluta. A resposta que a ciência vai dar é a possível naquele momento. Se tivermos novas descobertas, as coisas podem mudar, pois a ciência é dinâmica”, afirma.
Ele dá um exemplo de aplicação do método científico no cotidiano. Vamos supor que, durante o banho, o chuveiro para de esquentar de repente. A primeira hipótese poderia ser a de que acabou a energia. Mas, ao verificar que a lâmpada do banheiro continua acesa, ela seria descartada. Uma segunda hipótese poderia ser que o disjuntor desarmou. Mas, ao checar que ele não desarmou, essa hipótese também seria desconsiderada. Uma terceira possibilidade — a resistência do chuveiro queimou — também é afastada após abrir o chuveiro e perceber que isso não aconteceu.
“Poderia então ser um problema na fiação. Aí, você estaria buscando uma nova hipótese. No cotidiano, para resolver problemas, estamos sempre criando hipóteses. A diferença é que na ciência temos um método mais rigoroso para se chegar a evidências e não, simplesmente, chutes. Você cria uma situação, testa dentro de determinados parâmetros e verifica se a hipótese está correta ou não.”
De acordo com Martins, o grande objetivo nos cursos de ciências da natureza e das demais ciências é que o aluno veja a ciência no dia a dia e perceba a sua importância. “Buscamos criar para eles uma cultura científica a partir de uma educação científica. Isso significa ter condições de interpretar o mundo a partir do ponto de vista científico, pois a ciência permite a melhoria da qualidade de vida da humanidade.”
Ele destaca que a ciência possibilita distinguir o que é uma informação científica de uma fake news — por exemplo, os movimentos antivacina que levam a conclusões não científicas muito perigosas. “O aluno precisa perceber a ciência, munido de informações e de um arcabouço instrumental, que lhe permita diferenciar o que é uma informação falsa e o que não é. Isso é importante para buscarmos uma sociedade mais justa, mais igualitária, com oportunidades para todos e com mais sustentabilidade. Precisamos da ciência para isso acontecer.”
O autor aponta que, infelizmente, o Brasil ocupa a 63a posição em relação às ciências da natureza no Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Alunos], entre 70 países avaliados. “Estamos muito atrás, e nós educadores, quando escrevemos nosso material do Sistema Anglo, tentamos trazer para nossos alunos essa educação científica que é tão fundamental nos dias de hoje.”