Uma pessoa com a capacidade de reflexão crítica sobre o que acontece ao seu redor tem muito a contribuir
Quando falamos de repertório cultural, é comum relacionar o tema com a redação dos vestibulares. Mas, para além das dissertações, um bom repertório cultural impacta o início da vida profissional do jovem.
Segundo Marisa de Oliveira, autora de Língua Portuguesa do Sistema Anglo, um repertório cultural respeitável dá à pessoa categorias de análise para pensar sobre si mesma, o outro, o mundo em que ela vive e tudo isso junto, em relação.
Uma pessoa que tem a capacidade de reflexão, de elaboração sobre o que acontece fora e dentro dela, tem muito a contribuir nos contextos de que participe, porque ela pode trazer um ponto de vista sustentável – e, às vezes, mais do que um – para a resolução de uma questão.
“E mesmo que não haja nenhum problema a ser resolvido, é interessante conviver com pessoas que enxergam a vida como uma experiência complexa e que conseguem falar sobre isso. Elas costumam enriquecer as percepções daqueles que estão por perto e abertos às suas considerações”, afirma Marisa.
Mas a autora também destaca que essas considerações são respeitáveis apenas se estiverem alinhadas com os valores mais elevados do nosso tempo, de defesa dos direitos humanos e do meio ambiente.
Principais dicas para enriquecer o repertório
Uma pessoa desenvolve o seu repertório cultural lendo, escutando, conversando, observando; buscando, em cada uma dessas ações, uma interação de qualidade com esse outro presente, às vezes no mesmo tempo e espaço, às vezes não. Essas interações dão “material” para a reflexão, e a reflexão mediada por valores respeitáveis forma um repertório digno de consideração.
Para organizar esses conteúdos, uma recomendação é o hábito de escrever. “A escrita é uma ferramenta imprescindível, não só de ‘descanso’ para a memória e de interação com o outro, mas também de sistematização dos conhecimentos para si”, aponta Marisa.
Outras formas de enriquecer o repertório de acordo com a especialista:
• Quando lemos, interagimos com as ideias da autora ou do autor, não importa se viveu há 2500 anos ou se ainda vive, porque na leitura não somos passivos, estamos sempre “conversando” mentalmente com o que estamos lendo.
• Na escuta, quando paramos para ouvir alguém atentamente, também estamos em plena atividade intelectual. Elaboramos e reelaboramos mentalmente o nosso pensamento ao refletir sobre o que o outro está apresentando, ainda que não estejamos de acordo com todas as suas ideias.
• Em uma conversa com colegas, professores, mãe, pai e outras pessoas do cotidiano, todos os participantes podem elaborar e reelaborar o pensamento sobre o assunto em pauta e expressá-lo por meio da fala.
• Quando observamos uma situação social, na tentativa de compreendê-la, também utilizamos o que já sabemos e está na memória, ou anotado em algum lugar, e esse saber anterior, mais uma vez, se reconfigura com a nova experiência. Se as fontes do saber anteriormente elaborado forem confiáveis, e se quem está observando não descuidar da atenção, não há o que temer.