Como ensinar gramática de forma mais atrativa?

Educador dá dicas para fazer os estudantes se interessarem mais pela disciplina

Muitos estudantes não são fãs das aulas de gramática. Segundo Henrique Braga, autor de português, coordenador pedagógico e coordenador do projeto do Novo Ensino Médio do Anglo, algo que prejudicou o ensino da disciplina foi que, por décadas, se promoveu o estudo da gramática pela gramática. “A descrição gramatical, saber a nomenclatura do tempo verbais e das funções sintática, por exemplo, chegou a ficar acima da competência linguística de fato para a escrita e para a oralidade”, explica o educador. 

Além disso, ele explica que a gramática também ficou muito associada exclusivamente ao português padrão. A gramática que se estudava na escola era somente a gramática da variedade culta. “Isso estava atrelado a uma postura autoritária de desmerecer a fala popular. O professor de gramática era aquela pessoa que corrigia o aluno que ‘não sabia falar’. Só o professor de língua portuguesa sabia. Isso não gera aproximação, empatia ou interesse”, afirma Braga. 

Portanto, há uma tradição que contribuiu para criar um afastamento, mas os vestibulares mais importantes e o Enem trabalham muito variação linguística. “Há um movimento de políticas públicas para colocar o estudo e o ensino de língua no lugar adequado.”

Dicas para tornar o ensino mais atrativo

A primeira dica de Braga para tornar o ensino de gramática mais atrativo é sempre partir de textos reais. Ou seja, usar a língua que de fato circula, notícias, letras de música, trechos de obras literárias. A ideia é explorar os gêneros mais variados possíveis, mas com textos reais para contextualizar o estudo da gramática.

A segunda dica é jamais tratar o estudo como se fosse a gramática de uma língua estrangeira. É imprescindível lembrar que o aluno é falante nativo na maior parte dos casos e mesmo aqueles que não são nativos estão em um contexto em que a língua portuguesa circula no dia a dia de forma real. Ou seja, o que o professor pode fazer é aprimorar a consciência de algo que intuitivamente o aluno já domina e que, no uso prático, ele já conhece. Promover um conhecimento mais aprofundado e mais consciente é fundamental.

“Quando o professor trabalha os tempos verbais, o foco não deve estar no nome ‘pretérito-mais-que-perfeito’, mas em explicar por que chama mais que perfeito aquele tempo, que efeito ele tem no texto e qual a diferença entre usar o mais que perfeito composto e o mais que perfeito simples”, exemplifica o autor.  

Além disso, sempre que possível, o ideal é analisar a gramática do ponto de vista da variação linguística. Não só falar da colocação pronominal, mas mostrar a influência da fonética lusitana.

A quarta dica é sempre adotar uma postura crítica e investigativa ao se estudar gramática, tanto na descrição gramatical quanto na gramática normativa. “É interessante levar em conta que a gramática é uma construção humana e que há um modelo de análise da língua. Existe língua antes de existir gramática. E justamente por serem modelos humanos, eles podem gerar discussão ou não funcionar tão bem. É fundamental entender que a gramática é uma construção, que não é algo pronto a ser memorizado, decorado. Ela pode, sim, despertar uma atenção e um interesse dos estudantes.” 

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