Aproximadamente 50 milhões de pessoas com mais de 16 anos já perderam algum parente ou amigo vítima de latrocínio (roubo seguido de morte) no Brasil, aponta o último levantamento do Datafolha publicado em maio. Infelizmente, uma delas é o ex-aluno do Anglo Santos Noah Oshiro, que após a morte do irmão Luann, decidiu, com o apoio da escola, transformar a indignação e a tristeza em ações para o desenvolvimento social da cidade.
Luann Oshiro estudava no Pré-Vestibular da unidade Conselheiro, em Santos, litoral de São Paulo. Após um dia de estudo, saiu com duas colegas para ir a uma festa de aniversário, quando, na volta para casa, os três foram abordados por dois assaltantes no ponto de ônibus. Ao se levantar para retirar a carteira do bolso e entregá-la aos infratores, Luann foi alvejado.
“Foi preciso realizar um trabalho intenso com esses alunos para que eles se recuperassem do choque de perder um amigo – além das duas colegas que estavam no dia do ocorrido, a namorada do Luann também estudava na mesma sala do Pré-Vestibular. Então o professor Vitor Valente teve a ideia de transformar essa energia negativa em algo positivo e, a partir daí, começamos a promover ações para mostrar como é possível canalizar a dor da perda para o bem”, afirma Telma Amaral, coordenadora do Ensino Médio e do Pré-Vestibular da unidade Conselheiro. “A partir disso, o nosso objetivo foi transformar a escola no templo desses alunos, um local onde eles conseguissem superar essa dor. Nesse sentido, propomos, por meio de conversas e palestras, o estudo como forma de oração. Eles estudariam não só por eles mas também pelo Luann”, completa Telma.
No primeiro dia de aplicação da prova do Enem de 2015, foi promovida uma homenagem. Alunos, professores e funcionários customizaram camisetas com a imagem de Luann seguida da frase “Minha Vaga é a Sua”. Todos usaram, inclusive os professores, na porta das escolas. Um minuto de silêncio seguido de um grito de guerra lembrou o aluno que não estava mais presente.
A mobilização foi a semente do projeto Luann Vive, criado pela família de Luann, que hoje luta contra a interceptação (compra de objetos roubados) e trabalha na arrecadação de alimentos, brinquedos e roupas para crianças e idosos em situação de vulnerabilidade.
Luann Vive
Dois anos depois da tragédia, Luann permanece vivo não só nas lembranças da família, mas em ações concretas, que têm beneficiado toda a cidade de Santos, Guarujá e São Vicente. Com aproximadamente 50 voluntários, o projeto Luann Vive, criado pela família da vítima, cresceu e atua em diferentes vertentes sociais.
“Hoje temos iniciativas de doação de roupas, brinquedos e cestas básicas para creches e escolas, e também mantemos uma parceria com o Hospital Guilherme Álvaro, que abre as portas, por meio do projeto, para doadores de medula óssea e de sangue se cadastrarem todo último sábado do mês”, conta Noah Oshiro, irmão de Luann.
Além das doações, o grupo distribui jornais, gibis e banners nas ruas, e oferece palestras em escolas para falar sobre as consequências de se comprar produtos roubados, crime cuja pena pode chegar a 8 anos de prisão.
“Após conhecer muitas famílias que passaram pela mesma situação, decidimos fazer algo para que aquilo não se repetisse novamente. Além de todas as campanhas e iniciativas, estamos fazendo uma mobilização para tornar o dia 19 de outubro o dia nacional do combate a receptação”, finaliza Noah.
Mais informações sobre o projeto podem ser encontradas na página oficial por meio do link https://www.facebook.com/luannvive/.