Família deve cooperar para manter a saúde mental; diálogo, flexibilidade e respeito mútuo são essenciais nesse momento de convivência intensa, que traz desafios e aprendizados
Manter a saúde mental equilibrada na quarentena é algo importante e desejado por todos. Segundo Paula Pimenta, psicóloga do Serviço de Atendimento Psicológico (SAP) do Curso Anglo, em São Paulo (SP), isso pode ser feito de várias formas, desde manter a regularidade de atividades básicas, como o horário de dormir, acordar e almoçar, até organizar o novo ambiente de trabalho ou estudo, além da prática de alguma atividade de autocuidado e que traga bem-estar.
Para pais e filhos, uma convivência saudável no ambiente familiar requer diálogo e flexibilidade. Cada um possui uma rotina de atividades específicas que, para serem cumpridas, é preciso privacidade, concentração e silêncio. “É importante que tanto os pais quanto os filhos comuniquem e compreendam quais são essas atividades e respeitem as necessidades de cada um para que elas possam ocorrer”, diz a psicóloga. Ela lembra que, além das atividades específicas, existem as tarefas domésticas que são comuns ao grupo de pessoas que moram no mesmo lugar. “Novamente, o diálogo para a divisão de tarefas e a compreensão da importância da colaboração se fazem necessários”, completa.
Ela explica que algumas inseguranças e medos com relação à saúde emocional e física entre os membros de uma família podem aparecer devido à situação da pandemia. Com isso, pode existir a reflexão sobre como cada um tem mantido suas relações familiares e como consegue expressar ou não suas ideias e sentimentos. “Essa reflexão pode ser muito positiva e levar a uma ação de mudança, como arriscar-se para fazer algo novo”.
A convivência intensa entre pais e filhos também traz desafios, que podem ser agravados por situações específicas — como os estudantes que vão prestar vestibular e que já estariam, normalmente, mais tensos, e agora ainda precisam enfrentar a mudança na rotina e a questão do estudo online e da autonomia e disciplina na preparação. “A ansiedade pode vir por conta do jovem avaliar que não consegue ter ou manter um bom plano de estudo ou pela preocupação de como será o retorno do estudo presencial, o vestibular e a questão da concorrência”, observa Paula.
Os pais podem ajudar os filhos tranquilizando-os e mostrando interesse em saber como está a realidade de estudo. “Buscar entender como o filho está lidando com essa situação e ajudá-lo a identificar o que está ao seu alcance hoje, a depender de suas possibilidades físicas e emocionais, já é de grande valia.”
Se uma situação de crise traz muitas instabilidades e pode afetar as relações com outras pessoas, por outro lado, alguns aprendizados também são possíveis, como a empatia, a resiliência e o discernimento. “Ser empático significa compreender e acolher o sentimento daquele que demonstra um sofrimento. A resiliência é o desenvolvimento da aceitação frente aquilo que é incontrolável. Já o discernimento é essencial para que cada um entenda e diferencie os seus sentimentos dos da outra pessoa. Entendendo esse limite elimina-se a culpa ou a responsabilização de algo que não lhe diz respeito”, finaliza a psicóloga.