Diversidade de propostas, metodologias e formas de avaliação incentivam a variedade de competências dos estudantes e permitem olhar mais personalizado e inclusivo
Durante muito tempo, a capacidade lógica foi considerada a única forma de inteligência. Mas, hoje, sabemos que todas as pessoas possuem vários tipos de inteligência e que vão desenvolvê-las em maior ou menor grau de acordo com as suas aptidões natas e com o meio onde vivem. “Nesse contexto, as escolas precisam ter um olhar mais amplo para abarcar a diversidade de alunos e a variedade de competências que eles trazem”, diz Mariângela Petrosino, assessora pedagógica do Sistema Anglo.
Ela explica que a Teoria das Inteligências Múltiplas surgiu no início da década de 1980, com o psicólogo norte-americano Howard Gardner, que propôs uma nova forma de olhar para o desenvolvimento da criança e o aprendizado.
“Aluno da Universidade de Harvard, Gardner não se conformava com os testes de QI da época, que só tinham uma métrica, a lógica. Eram exercícios de matemática e nem todos se davam bem. Ele começou a ver, então, que aqueles que tinham resultado baixo nesses testes muitas vezes se tornavam excelentes profissionais em outras áreas. E aí ele cria a Teoria das Inteligências Múltiplas”, conta a assessora. Segundo Gardner, há 9 tipos de inteligência: corporal ou cinestésica; espacial, interpessoal; intrapessoal; lógica; musical; verbal; naturalista; e existencial [ver quadro abaixo].
De acordo com Mariângela, a partir dessa diversidade, a escola precisa possibilitar uma igualdade no desenvolvimento dessas inteligências. Para isso, no entanto, ela deve ter meios de identificar e valorizar essas diferentes habilidades. “Uma maneira de fazer isso é proporcionar atividades que vão privilegiar as diversas inteligências. Por exemplo, projetos de robótica vão favorecer aqueles que têm inteligência espacial, assim como os de empreendedorismo e desafios em equipe vão ajudar os estudantes que possuem a inteligência interpessoal mais desenvolvida”, observa. Da mesma forma, disponibilizar vários instrumentos e promover a participação em coral e festivais estimula a inteligência musical e atividades de contação de história e de interpretação de texto beneficiam a inteligência verbal.
“Quando a escola entende que há pessoas com inteligências diferentes e que cabe aos educadores estimular essas inteligências, respeitando a diversidade de indivíduos, começa a existir um olhar muito mais voltado para diferentes metodologias, mais ativas e inovadoras, e uma perspectiva mais inclusiva”, afirma a assessora.
Para ela, isso leva a pensar também nas formas de avaliação. “Se eu der a mesma prova para todas as crianças, eu estou favorecendo só um tipo de inteligência. A escola precisa ter um leque de avaliações para poder englobar todos os estudantes. Às vezes, o aluno não consegue se expressar escrevendo, mas vai muito bem em um seminário ou vice-versa, e é preciso valorizar isso. O que Gardner sugere é que as escolas olhem para os alunos de forma individualizada para poder explorar os diferentes tipos de inteligência.”
Conheça os 9 tipos de inteligência, segundo a Teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner:
Inteligência corporal ou cinestésica: diz respeito a controlar e conhecer o próprio corpo, possuir agilidade, coordenação motora e equilíbrio e ter facilidade para se comunicar por meio de gestos e expressões faciais. Esse tipo de inteligência favorece artistas, esportistas e dançarinos, entre outros.
Inteligência espacial: as pessoas que têm essa inteligência bem desenvolvida são capazes de se localizar muito bem geograficamente e possuem boa visão espacial, conseguindo projetar ambientes e processos. Em geral, tornam-se arquitetos, fotógrafos e escultores.
Inteligência interpessoal: refere-se à facilidade em entender o outro, reconhecer a sua dor e se colocar em seu lugar. Exemplos de profissionais nos quais essa inteligência costuma ser bem desenvolvida são advogados, psicólogos e os que atuam com marketing e vendas.
Inteligência intrapessoal: envolve autoconhecimento e saber reconhecer os próprios sentimentos, limites, motivações e onde se quer chegar.
Inteligência lógica: em geral, pessoas que têm facilidade com números, cálculos e pensamento abstrato e lógico. Presente em engenheiros, matemáticos e outros profissionais da área de exatas e tecnologia.
Inteligência musical: favorece o desenvolvimento da musicalidade, o que inclui ter sensibilidade auditiva, ritmo, movimento harmônico e facilidade para criação de composições, sons e imitações, além de capacidade de interpretação e atuação. Artistas em geral têm essa inteligência bem desenvolvida.
Inteligência verbal: diz respeito à facilidade de comunicação, argumentação e persuasão, tanto na forma oral como escrita e gestual. Comum em profissionais como jornalistas, professores, escritores e vendedores.
Inteligência naturalista: quem tem essa inteligência desenvolvida consegue não só compreender os ciclos dos seres vivos e da natureza, como atuar no meio ambiente. São pessoas que se engajam em projetos ligados à natureza e à saúde humana, como biólogos, veterinários, agrônomos e médicos.
Inteligência existencial: refere-se à capacidade de questionar o sentido da vida e da morte, o transcendental, para tentar trazer respostas para a espécie humana. Envolve o trabalho de filósofos, psicólogos e sociólogos, entre outros.