Como lidar com a pressão de escolher uma carreira?

Influências de outras pessoas, principalmente de familiares, são comuns; estudante deve refletir sobre os motivos e as consequências da sua decisão 

O processo de escolha da profissão é um momento delicado e complexo para os jovens e costuma vir acompanhado de angústia e ansiedade. Apesar de se tratar de uma decisão que não precisa, necessariamente, valer para toda a vida, na escolha do curso acadêmico algumas expectativas são construídas — em relação à faculdade que se deseja cursar, ao mercado de trabalho, a posição social das diferentes profissões e ao retorno financeiro que elas podem trazer. 

Carolina Freitas, psicóloga do Serviço de Atendimento Psicológico do Anglo Vestibulares, afirma que a pressão existe e precisa ser levada em consideração. “É realmente um quebra-cabeça surpreendente, e muita coisa parece estar sendo decidida. E, sim, essa decisão terá suas consequências. São muitas cartas sendo colocadas na mesa.” 

Segundo ela, a dica é levar em conta todos esses fatores, mas também lembrar que a vida não é totalmente previsível. “Os jovens vão encontrar desvios pelo caminho, terão a oportunidade de se conhecerem melhor ao estudarem e exercerem suas profissões e poderão também ir encontrando novos espaços profissionais ao longo da carreira”, aponta. 

Influências e autoconhecimento  

A psicóloga explica que é impossível ter ideais totalmente próprios que não estejam de alguma forma sendo incentivados por alguém ao nosso redor ou referenciados em outras pessoas e histórias de vida.  

“Nós nos contagiamos uns pelos outros e imaginamos o futuro com base em pessoas ou carreiras que admiramos ou mesmo em pressões sociais e familiares que acreditamos ter de responder. Mas, muitas vezes, essa experiência pode ser limitadora dos nossos desejos e  até mesmo opressiva”, alerta. 

Um caminho, de acordo com ela, é se apropriar dessas influências mais fortes e fazer como que uma cartografia dos afetos, mapeando as emoções e se fazendo perguntas como:  

  • Quais pessoas têm influenciado minhas decisões?  
  • De que forma isso tem acontecido?  
  • Estou confortável com essa situação?  
  • Quais profissionais ou profissões eu admiro?  
  • O que sei sobre essa(s) carreira(s) que desejo seguir?  
  • O que existe nessa profissão que me atrai? E o que não me atrai? 

“Isso é importante porque nossos objetivos e metas são criados quando conseguimos, com muita reflexão, nos apropriarmos daquilo que os outros deixam para nós como influência, desejo ou medo”, ressalta. 

Quando os pais querem interferir na decisão 

 Carolina comenta que são diversas as situações que os estudantes podem vivenciar. De modo geral, se a aluna ou aluno se sente pouco ouvido por seus familiares em seus desejos e não encontra apoio em sua decisão, é importante entender por que isso está acontecendo.  

“As famílias podem agir de modo mais rígido nessa hora, acreditando que estão garantindo algo aos seus filhos e filhas. Sabemos que, muitas vezes, os pais projetam nos filhos os seus próprios desejos, frustrações ou medo frente às incertezas do futuro”, indica. “Porém, nossos familiares também não sabem muito bem sobre as nossas potencialidades e fragilidades, nem sobre os nossos desejos.” 

Se determinadas influências estiverem sendo pesarosas e difíceis de lidar, ela orienta que o jovem se afaste um pouco delas, em um primeiro momento, e peça apoio a quem ele imagina que poderia ajudá-lo efetivamente. A partir daí, ele pode pensar em uma conversa. 

A especialista cita algumas estratégias possíveis de diálogo

  • Peça uma conversa com seus familiares, pense antes no que quer dizer a eles e tente não se julgar pelo que quer falar. Quando for falar, peça para ser ouvido até o fim sem interrupções. Assim, você garante que terá um tempo para se expressar com mais tranquilidade. 
  • Fale com eles imaginando que, de fato, eles não sabem o que se passa com você. Afinal, a chance de isso ser real é grande, mesmo que eles insistam em dizer que, como pais, eles te conhecem melhor do que você. 
  • Quando for a vez de eles falarem, entenda que tudo o que for dito se refere à perspectiva deles e, portanto, não deve ser considerado como uma verdade.  
  • Lembre-se que, independentemente do rumo que a conversa tomar, a decisão continuará sendo sua. Você será a principal pessoa a lidar com as consequências da sua decisão.     

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