Elaboração de estratégias, concentração e raciocínio lógico são algumas das competências estimuladas, além da resiliência e da capacidade de lidar com perdas e frustrações
Os jogos de tabuleiro são recursos extremamente ricos para trabalhar com as diferentes habilidades dos alunos. Além dos ganhos sociais — ao jogar com parceiros ou em grupos–, eles ajudam no desenvolvimento da concentração, do raciocínio e da memória.
“Dependendo do jogo, ele também exige a elaboração de uma estratégia, a capacidade de fazer previsões e a análise se a jogada feita foi a melhor possível ou se haveriam outras mais interessantes”, diz Adair Mendes Nacarato, autora de matemática do Ensino Fundamental do Sistema Anglo.
Ela explica que em uma situação de aprendizagem, na sala de aula, é importante o professor solicitar ao aluno que descreva a lógica do tabuleiro que, muitas vezes, é acompanhada da leitura das regras do jogo. “Nessa análise, o aluno já coloca em ação algumas habilidades, como atenção, observação e percepção de regularidades.”
Por exemplo, em um jogo de lançamento de dois dados, em que serão somados esses dois números, o aluno escolhe em qual casa do tabuleiro ele vai apostar de acordo com as maiores probabilidades dessa soma. “Em um tabuleiro com as casas de 1 a 12, ele deve perceber que não pode jamais apostar na casa do 1, pois, se ele está lançando dois dados, a menor soma possível é 2. Da mesma forma, ele deve considerar as somas que têm poucas possibilidades de ocorrer, como o 2 (a única possibilidade é 1+1) e o 12 (apenas uma chance também, que seria 6+6)”, explica a autora.
Outro jogo que ela cita, que desenvolve bastante o cálculo mental, é o Contig 60, que tem o tabuleiro em forma de espiral, um quadrado com 64 casas, numeradas do zero ao 180 (não na ordem linear). O jogador lança três dados e, com aqueles três números, ele precisa fazer duas operações (adição, subtração, multiplicação ou divisão) para alcançar o determinado valor de uma casa. Ganha o jogo quem conseguir o maior número de pontos.
A autora destaca que, além dos jogos que desenvolvem o raciocínio, há outros tipos focados em outras habilidades — como o treino da contagem e da sequência numérica, para crianças menores. Esse é o caso dos jogos de percurso, em que o aluno vai lançar um ou mais dados e caminhar algumas casas no tabuleiro, avançando ou retrocedendo. “Tudo vai depender da intencionalidade do professor ou de quem está utilizando o jogo.”
Todos esses jogos também podem ser usados com a família ou amigos, fora da sala de aula, e trabalham naturalmente, no ato de jogar, diferentes habilidades. “Em um jogo que envolve probabilidade, por exemplo, ao mesmo tempo que a pessoa prevê o que ela tem que fazer para ganhar, ela também está realizando um cálculo mental”, afirma.
Adair ressalta que é importante as famílias incentivarem o uso de jogos, mas deixando de lado o mito que a criança deve ganhar sempre quando joga com um adulto, pois esse não é o objetivo do jogo. “Há sempre um vencedor e um perdedor, o que possibilita trabalhar também habilidades socioemocionais, como o entendimento que nem sempre se vai ganhar e o respeito por quem venceu e teve uma estratégia melhor. A criança tem que aprender, e essa é uma habilidade para vida, que nem sempre a gente vence; a gente perde também.”