Entenda a importância de conversar sobre a gestão do dinheiro com os alunos
Desde 2017, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece como obrigatória a educação financeira para os estudantes do Ensino Fundamental. Porém, um estudo publicado recentemente aponta que apenas 23% dos professores conseguem utilizá-la no contexto das aulas, seja por falta de conhecimento ou de recursos.
Thiago Dutra, autor do Sistema Anglo de Ensino, afirma que a Educação Financeira precisa ser conectada às demais matérias estudadas pelos alunos. “A disciplina não fornece uma fórmula de sucesso, mas contribui trazendo elementos para que os estudantes se sintam estimulados a refletirem sobre o tema”.
A educação financeira para um futuro consciente e sustentável
O aprendizado da gestão do dinheiro pode auxiliar os estudantes a tomarem decisões responsáveis no futuro. De acordo com Dutra, qualquer processo de tomada de decisão envolve pilares fundamentais como informação, conhecimento técnico e intencionalidade. “Hoje em dia, a disponibilidade de informações não é um problema. O difícil é saber interpretar e analisar as informações recebidas”, diz ele. Para isso, o especialista afirma que o ferramental técnico é essencial: “é impossível tomar decisões conscientes e responsáveis sem o devido conhecimento robusto de um arcabouço teórico”.
Porém, o professor comenta que a intencionalidade também é relevante para a tomada de decisões. “Um indivíduo letrado financeiramente considera aspectos não financeiros para efetivar suas escolhas: elas devem ser ecologicamente, socialmente e eticamente responsáveis”. Dutra cita ainda a tendência do ESG (Environmental, Social and Governance ou Ambiental, Social e Governança) e da “sustentabilidade financeira”, que se tornaram preocupações globais para as empresas.
“Esses argumentos exemplificam o porquê de o nome da disciplina não ser Matemática Financeira, mas sim Educação Financeira”, diz. “O uso de técnicas matemáticas faz parte da disciplina, mas não se limita a isso”. Ele afirma que a matéria prepara o aluno por meio de atividades investigativas, debates, discussões, estudos de caso, elaboração de projetos e criação de planejamentos financeiros.
Formação de habilidades nos estudantes
O professor aponta alguns dos conhecimentos adquiridos durante a disciplina, em diferentes níveis de complexidade:
- Aplicar os conceitos vistos e calcular e interpretar os resultados obtidos;
- Investigar sobre um problema financeiro (conjecturar sobre uma hipótese, testá-la, validá-la ou refutá-la com base em alguma argumentação consistente);
- Avaliar vantagens ou desvantagens da tomada de alguma decisão em particular;
- Criar algum produto ou processo que lhe seja mais favorável.
Existem também algumas habilidades desenvolvidas nos estudantes ao longo do aprendizado. Thiago cita:
- Desenvolvimento do pensamento crítico com a tomada de decisões conscientes;
- Socialização (lidar com o dinheiro é uma tarefa social coletiva, e não individual);
- Desenvolvimento de competências socioemocionais.
Sobre a última habilidade, o especialista afirma que a relação emocional do ser humano com o dinheiro não é algo intrínseco a ele e é um ponto que pode ser trabalhado desde a Educação Básica. “Um exemplo interessante sobre isso aparece nas aulas sobre Risco e Seguros”. Nelas, os alunos aprendem os motivos que fazem alguém ter mais ou menos aversão ao risco, as formas de lidar com o medo e a modulação da tristeza e da raiva quando um planejamento financeiro não dá certo.