Eduardo Calbucci, docente e autor do Curso Anglo, recomenda obras relacionada à educação escritas por pesquisadores e acadêmicos que são referência na área
O ofício de professor é muito desafiador e, ao mesmo tempo, uma oportunidade singular de aprender sempre, renovar-se, transformar-se e inspirar as pessoas. Nessa trajetória, os livros devem ocupar papel de destaque.
Eduardo Calbucci, professor e autor do Curso Anglo, aponta que, atualmente, é comum ficarmos com a sensação de que todo o conhecimento humano está disponível no universo digital, mas as coisas não são exatamente assim. “Existem determinados momentos em que temos que fugir da ‘simplicidade’ e enfrentar os textos originais que deram origem às convicções científicas que nós levamos em consideração.”
Para isso, ele indica cinco obras. Em comum, elas têm apreço pelo conhecimento e o fato de terem sido produzidas por pesquisadores, acadêmicos e professores com uma grande bagagem intelectual e conhecedores da educação e da ciência.
“Eu escolhi livros que fazem sentido para mim, como educador, linguista e estudioso das competências socioemocionais”, afirma Calbucci. “Dois deles são mais ligados à neurociência, um mais relacionado à linguística, outro à pedagogia – eu não podia deixar de citar Paulo Freire – e há também uma obra literária. Cada obra tem algo importante a dizer sobre educação. Se queremos estimular o prazer da leitura nos nossos alunos, precisamos ler e falar sobre livros.”
Confira, a seguir, as indicações do professor:
1. “O foco triplo”, de Daniel Goleman e Peter Senge
Em um mundo em que há distrações cada vez maiores, manter o foco é um desafio e tanto, sobretudo no universo da educação. Mas o que chamamos popularmente de “foco” pode englobar várias competências que nos ajudam a regular nossas emoções, manter relações sociais saudáveis e fazer escolhas comprometidas com princípios éticos. Os professores Goleman e Senge exploram, nas cinco partes dessa obra, como tudo isso está relacionado à educação e à escola do futuro.
2. “O erro de Descartes”, de António Damásio
Neste livro, o neurocientista português António Damásio brinca com a famosa frase do filósofo francês René Descartes (“penso, logo existo”) para reformulá-la, mostrando que nossas emoções exercem enorme influência sobre nosso raciocínio e sobre nossa capacidade de tomar decisões. Assim, o que definiria a existência humana seria justamente nossa capacidade de sentir. Se, um dia, acreditamos que razão e emoção eram inconciliáveis, Damásio vem mostrar que estávamos completamente enganados.
3. “Linguagem e ideologia”, de José Luiz Fiorin
O professor José Luiz Fiorin é um dos maiores linguistas brasileiros. Nesta obra, ele mostra que a linguagem, além de ser uma maneira de nos comunicarmos, é também um modo de representar a realidade e, portanto, um instrumento de manifestação de ideologias. Desfazendo o mito de que a linguagem pode ser neutra, Fiorin reflete sobre o poder do discurso para manter e para contestar práticas sociais.
4. “Pedagogia da autonomia”, de Paulo Freire
Publicado um ano antes da morte de Paulo Freire, em 1996, este livro se mostra cada vez mais atual. Numa época em que se fala de profissões do futuro, discute-se metodologias ativas de aprendizagem e os estudantes têm cada mais necessidades diferentes, é fundamental retomar o conceito de “autonomia”. E para que ela seja construída, os alunos precisam ser colocados no centro do processo de aprendizagem, que deve ocorrer de maneira interativa e contextualizada.
5. “O nome da rosa”, de Umberto Eco
Este romance é uma história sobre livros, bibliotecas, os labirintos da alma humana e o poder transgressor do conhecimento. Numa abadia medieval, uma série de crimes é investigada por um padre e seu discípulo. Os elementos do gênero policial vão se misturando a uma reflexão permanente sobre o valor do conhecimento.