Expressão facial e postura corporal são pistas para o professor acompanhar o entendimento dos alunos; escola remota exige novos combinados entre docentes e estudantes
No ensino remoto durante a quarentena, uma queixa comum dos professores se refere ao fato de muitos alunos terem vergonha de abrir a câmera do computador ou celular e participar das aulas síncronas (ao vivo). Maristela Monteiro Paschoal, assessora pedagógica do Sistema Anglo, observa que essa situação pode acontecer não só devido à timidez. “Às vezes, o aluno não quer mostrar o que ele está fazendo, pois sabe que não seria permitido, como ficar no celular ou mesmo se levantar e sair do ambiente. Também pode ocorrer de não querer expor o espaço de sua casa e a movimentação das pessoas da família”.
Segundo a assessora, os professores precisam ter muito tato para perceber a situação, identificar o motivo e conversar com o aluno, se for caso. Uma saída para aqueles que não se sentem à vontade em mostrar o ambiente onde estão é colocar um tela de fundo fake ou plano de fundo virtual. Nos casos em que se tratar de timidez mesmo, o docente também deve proceder com muito cuidado, para não expor o aluno nem causar constrangimentos. A orientação é promover mecanismos para inseri-lo aos poucos nas aulas. Ao começar a participar mais, o estudante vai aprendendo a controlar a timidez e a ansiedade e a conviver com isso.
Maristela diz que o professor também pode mostrar que não há problema em a pessoa ser tímida, desde que isso não prejudique as interações interpessoais e o aprendizado, e que a timidez tem até vantagens. “A pessoa costuma falar menos e ouvir mais e, assim, pode fazer colocações mais fundamentadas.”
De acordo com ela, é muito importante haver uma conversa entre professores e alunos para rever os combinados e adaptá-los à nova situação de aulas à distância. Esses acordos devem ficar bem claros para todos e podem incluir tanto procedimentos durante a aula — como deixar o microfone fechado e a câmera aberta enquanto o professor fala e não se ausentar durante as explicações — como o que será feito caso eles não sejam cumpridos, como advertência, ser retirado da sala virtual e até conversa com a família. “O que não pode acontecer é o estudante achar que não precisa ter padrão de comportamento porque ele está sozinho em casa assistindo aula online”.
A assessora aponta que o pedido dos professores para que a câmera fique aberta tem uma razão e isso deve ser exposto aos alunos. “Na comunicação durante a aula, ao visualizar a expressão facial dos alunos e a própria postura corporal deles, o professor consegue perceber se estão entendendo o que ele está falando ou se estão dispersos. Se as câmeras dos estudantes estiverem fechadas, ele perde essas informações.” Segundo ela, a câmera aberta também permite que o professor seja mais acolhedor com os alunos, principalmente neste momento difícil, em que todos estão com saudades da escola e dos colegas. “Também é uma maneira de se aproximar dos alunos, conversar com eles e saber como estão se sentindo. A câmera ligada proporciona esse tipo de troca e esse calor humano.”