A arte e a vida estão diretamente interligadas. As matérias básicas da escola, como a matemática ou a história, não ficam de fora dessa relação
Quando o assunto é escola, muitos associam o ambiente às disciplinas tradicionalmente definidas como essenciais. De fato, a matemática e a linguagem, por exemplo, são cruciais para um bom desenvolvimento, mas a arte não ocupa um papel inferior. Na realidade, todas as matérias escolares dialogam com a arte, além do próprio cotidiano humano.
Por esse motivo, os estudantes que possuem grande afinidade pela arte não precisam se sentir oprimidos durante as aulas de outras disciplinas. Pelo contrário, podem aproveitar esses conteúdos para ampliar os seus repertórios, ganhar inspirações e relacionar conceitos variados.
Para analisar esse tema, conversamos com Eduardo Duique, historiador da Arte e autor do Sistema Anglo. Confira:
Por que os estudantes que querem seguir carreira artística devem dar atenção às disciplinas escolares?
Para Duique, os jovens artistas devem continuar atentos às outras disciplinas escolares justamente porque a arte é múltipla, capaz de dialogar com qualquer tema. Ele completa:
“O artista brasileiro Tunga, quando questionado sobre o que a arte pode dizer, afirmava:
‘Sobre o que vamos falar? Poderíamos falar sobre qualquer coisa, mas falar sobre qualquer coisa seria um pouco mais que isso. Falar e estar disposto a responder sobre qualquer coisa. (…) não porque eu saiba a resposta, mas porque posso incluir toda e qualquer coisa dentro do meu discurso. Qual é a única disciplina no mundo que lhe permite incluir toda e qualquer coisa no seu discurso? Que eu saiba é a arte.’
A arte como elemento multidisciplinar
“As artes são, por excelência, multidisciplinares e todas as áreas do conhecimento podem contribuir para a construção do repertório de referências da(o) artista. Sem esquecer que arte é também diálogo com o mundo, construção de mensagem, e depende de leitura crítica da realidade. Todas as disciplinas escolares podem contribuir na forma de um(a) artista”, comenta Duique.
Como as matérias da escola podem instigar a arte?
As matérias tradicionais da escola instigam a arte de diversas formas. O professor Duique traz alguns exemplos interessantes:
Eduardo Kac, artista brasileiro, possui diversas obras que se utilizam de conhecimentos e tecnologias associados à biologia para expandir os limites da arte, como a coelhinha fosforescente Alba, que foi geneticamente modificada para brilhar no escuro com a ajuda de um geneticista francês.
Harmonia Rozales, artista cubano-americana, em sua coleção de pinturas denominada Black Imaginary to Counter Hegemony (Imaginário negro para a contra hegemonia, em tradução livre), faz releituras de obras clássicas da História da Arte Renascentista com personagens negros em um interessante diálogo com questões sociais contemporâneas.
Até mesmo as matérias de exatas podem instigar artistas. Escher, um artista holandês do século XX é famoso por suas construções geométricas e ilusões de ótica fantásticas inspiradas pelo trabalho de matemáticos e físicos como o vencedor do Nobel, Roger Penrose. Mais tarde, as obras do próprio Escher influenciaram o trabalho de estudiosos da psicologia.
A arte e a tecnologia
No século XXI, com o avanço tecnológico e da internet, as ferramentas digitais aparecem como uma possibilidade de expansão e criação de arte. Sobre isso, o professor completa: “Observem ainda que, atualmente, os conhecimentos na área da cultura digital e programação são ferramentas de enorme utilidade para muitos artistas, da produção de memes amadores até a realização dos incríveis efeitos especiais das grandes produções hollywoodianas ou desenvolvimento de jogos de videogame, que também podem ser considerados obras de arte.”