Pais e professores dos próprios filhos dão dicas de como manter a harmonia em casa e na sala de aula

Para profissionais, na escola, filhos devem ser vistos como alunos

Enquanto corrige as provas dos seus alunos, o professor de História do Anglo Pouso Alegre (MG), Bruno Ferreira, se depara com uma nota 9 do aluno Lorenzo Mancuso, de 11 anos que, por acaso, é seu filho. Na hora de deixar seu comentário escrito no teste, ação realizada na prova de todos os pupilos, surge uma dúvida: “Devo escrever ‘parabéns’, do modo como eu diria como professor, ou ‘não é mais do que a sua obrigação’, como muitos pais dizem aos seus filhos? ”, diz Bruno, aos risos.

Brincadeiras à parte, essa é a realidade de muitos profissionais da educação: uma hora ou outra, eles acabam encontrando os filhos em sala de aula. No caso de Bruno, a circunstância gerou apreensão. “Comecei a dar aula para meu primogênito no começo desse ano e o mais difícil foi lidar com essa expectativa porque, na verdade, ele é um aluno como qualquer outro. A diferença é ele ter dentro de sala um professor e um pai”, diz Bruno, que antes do início do ano letivo, pediu conselhos para o núcleo de psicologia do colégio.

Para Bruno, o mais importante é encontrar um equilíbrio na relação entre pai e filho. “Na sala de aula, você não pode pesar a mão nem relevar por ser pai. Se você faz qualquer tipo de diferenciação, o seu filho e os outros alunos percebem. O ideal é evitar entrar em atrito por cobranças que não seriam feitas a um aluno. No entanto, dentro de casa é necessário fazer questionamentos sobre o ambiente escolar”, completa o professor de história.

O tratamento igualitário também é defendido por Denize Brochi, professora de Inglês do Colégio Cezanne – Americana (SP), no interior de São Paulo. “Tenho tomado cuidado para não expor o meu filho, pois existe a tendência natural de querer que ele seja o exemplo. Aí eu acabo sendo mais enérgica e ele pode acabar se sentindo prejudicado. Estou aprendendo que preciso respeitar a individualidade dele e separar a parte emocional da profissional”, conta a mãe de Leonardo, hoje no sétimo ano do Ensino Fundamental II.

Já Rosimeire Fiches, professora de Inglês do Instituto XV de Agosto, de Sorocaba (SP), afirma que a situação, às vezes, foge do controle. “Já fui professora do meu filho mais velho, que já terminou o Ensino Médio, e estou tendo a minha segunda experiência com meu filho mais novo, de 10 anos. Sempre os tratei como se fossem iguais aos outros alunos, mas acabo cobrando mais do filho quando o assunto é comportamento e participação na aula” diz.

“Te chamo de pai ou professor?”

Segundo Patricia Lacerda, psicóloga e orientadora no Sistema Anglo de Ensino, se o adulto não conseguir separar e diferenciar o papel de pai/mãe com o de professor(a), provavelmente, o filho também sentirá dificuldades em diferenciar não só o papel do pai/professor, como o dele próprio, filho/aluno.

“É importante, como mãe ou pai, orientar o filho que, no espaço público da escola, ele é o professor e o filho é o aluno. Essa separação e diferenciação de papéis deve existir inclusive por conta dos outros alunos. Caso o grupo perceba um tratamento protecionista do professor com o filho, pode gerar desconfiança da turma e prejudicar a relação professor-alunos”, afirma Patrícia.

Essa dosagem, no entanto, depende do contexto e da escola à qual a família está relacionada. “Apesar dele me chamar de pai na sala de aula, a minha preocupação é não deixar de tratá-lo como aluno. É um cuidado que a gente precisa ter para ele não acabar sofrendo algum tipo de exclusão”, afirma Bruno, que nas reuniões de pais, pede para a mulher comparecer. Denize, pelo contrário, participa de todos os encontros entre pais e professores. “Ter esse tipo de relacionamento com a coordenação me deixa bem tranquila, pois sei que ela está do meu lado para me orientar e apoiar”, conta a professora de Inglês.

Devido às especificidades de cada cidade, instituição e família, não há uma solução pronta para manter o ambiente escolar e o familiar dos pais professores em equilíbrio. No entanto, a necessidade de dialogar com os filhos é unanimidade entre os profissionais que passam por essa situação. “A criança deve ser inserida nessa conversa, tem que perguntar o que eles pensam sobre a experiência e expor também as suas próprias dificuldades. Meu filho descobriu uma faceta minha que até então ele não sabia, assim como eu descobri uma dele. Criou-se uma cumplicidade maior entre nós, estamos mais próximos e hoje ele até entende as minhas ausências, por exemplo”, conclui Bruno.

Se você é aluno, professor, gestor ou faz parte de alguma escola da rede Anglo, venha nos contar o que você faz para inspirar as pessoas ao seu redor. Envie sua história para nós.

 

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