Repertório textual: 3 músicas que abordam o racismo e a desigualdade social

Marisa de Oliveira, autora do Sistema Anglo, aponta três canções que criticam a questão racial e a desigualdade no Brasil

Quando o assunto é vestibular, muitos estudantes esquecem a importância de ter um amplo repertório textual, seja para conseguir analisar outras obras expostas nas questões, ou para reforçar a escrita da redação. Conhecer canções brasileiras é essencial, principalmente aquelas que trazem críticas e reflexões sobre algum problema do país.

Pensando nisso, Marisa de Oliveira, autora do Sistema Anglo, separou três músicas que giram em torno do tema racismo e desigualdade social. Confira as análises:

Rosa do Morro (2014), Renan Inquérito e Roberta Estrela D´Alva

“Entre duas declamações de trechos de Carolina Maria de Jesus, o narrador fala de Rosa, mulher cuja vida é marcada, em todos os âmbitos, pela cor preta de sua pele”, comenta a profissional. 

Em contraste com um ritmo musical alegre, a produção descreve a vida difícil, cercada pelo preconceito, de Rosa, mulher afrodescendente. Em um primeiro momento, com caráter narrativo, o público ouve sobre o cotidiano da personagem. Lê-se o trecho:

“Sobe a ladeira Dona Rosa

A Rosa do Morro, a Rosa que é preta

Mas saiba você que nem tudo são flores

No jardim que ela vive

Tem miséria e tem crime

A polícia oprime

Mas é de lá que ela veio”

Trazendo o debate para a discriminação racial, o trecho abaixo questiona a opressão motivada simplesmente pela cor de pele.

“Então ela se perguntava

‘Meu deus, por que tanto a minha cor incomoda

Se nem todas as rosas são cor de rosa?’ “

Ouça a música: https://www.youtube.com/watch?v=3BhrBqgvIKs

Caravanas (2017), do Chico Buarque

“O eu lírico da música, que parece um morador da Zona Sul carioca um tanto perturbado, narra a chegada de uma suposta “caravana” de suburbanos à praia de Copacabana. No que parece ser um delírio, transita entre praia, prisão e navio negreiro, manifestando fascínio, ódio e, sobretudo, medo por esse grupo de pessoas que lhe parecem aterrorizantes”, descreve a autora.

A canção retrata uma classe média preocupada em defender seu território e segurança, vendo os meninos que vêm à praia como ameaça, e disposta a fazer o que for preciso para isso.

“Com negros torsos nus deixam em polvorosa

A gente ordeira e virtuosa que apela

Pra polícia despachar de volta

O populacho pra favela”

Ouça a música: https://www.youtube.com/watch?v=6TtjniGQqAc

AmarElo (2019), Emicida

“AmarElo”, música do renomado cantor Emicida,fala de autodeterminação, resistência e luta por uma vida digna”, segundo Oliveira. Além disso, a profissional diz que a obra ressalta “vitórias individuais amparadas na força do coletivo, a despeito dos obstáculos impostos por um sistema socioeconômico hostil e um Estado ausente”.

A música reflete sobre o Brasil atual e seus contrastes, focando em uma classe que resiste e busca uma vitória:

“Por fim, permita que eu fale, não as minhas cicatrizes

Achar que essas mazelas me definem, é o pior dos crimes

É dar o troféu pro nosso algoz e fazer nóiz sumir”

Já o refrão se assemelha a um grito de guerra:

“Tenho sangrado demais

Tenho chorado pra cachorro

Ano passado eu morri

Mas esse ano eu não morro”

Ouça a música: https://www.youtube.com/watch?v=PTDgP3BDPIU

Escreva um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *