Maria Celia Assumpção explica como e por que a presença do pai afeta o desempenho dos estudantes
De acordo com dados do IBGE, o número de pais que criam filhos sozinhos aumentou nos últimos anos. De 2005 a 2015, a porcentagem de mães solo foi de 25,8% para 26,8%, e a de país solo subiu de 3,1% para 3,6%. Por isso, o debate e as reflexões sobre a importância da figura paterna na vida dos filhos são cada vez mais necessários, em especial na educação.
Maria Celia Assumpção, psicopedagoga e autora do Sistema Anglo de Ensino, afirma que o conceito de paternidade e vida familiar passam por um momento de mudança. “Um novo papel cultural desafia os modelos tradicionais e ressignifica a paternidade, atribuindo-lhe um papel mais afinado com o mundo moderno”, diz ela.
“A família nuclear, com certas expectativas de gênero para pais e mães, está se modificando”, pontua Celia. “Um novo tipo de figura de pai, menos paternalista e menos dominante, emerge. Pais podem desempenhar um papel diferente no cuidado com os filhos, cultivando um senso de identidade mais forte”.
A influência do pai no desenvolvimento da criança
A psicopedagoga reforça que o pai desempenha um papel crucial no desenvolvimento infantil. “Alguns princípios básicos passam a influenciar os estilos de comportamento dos pais em suas práticas educacionais, podendo moldar o desenvolvimento social e pessoal da criança”.
Celia afirma que a criança tem mais chances de florescer em lares de pais que expressam interesse e afeto explícito por ela e por tudo que envolve seu bem-estar físico e emocional. “Trata-se de pais que estão conscientes dos estados emocionais da criança, são sensíveis às suas necessidades, demonstram interesse por seus desejos e preocupações e expressam orgulho e alegria diante de seus êxitos e comportamentos”, diz ela.
A especialista ainda comenta que a afetividade age sobre o potencial de amadurecimento e de independência da criança. O pai deve se empenhar para propor normas de forma consistente, dentro de um clima de afeto e comunicação, além de manter níveis de exigência de acordo com as capacidades da criança e levar em conta suas opiniões na tomada de decisões. Isso faz com que ela tenha altos níveis de autocontrole e autoestima e seja capaz de enfrentar situações novas com confiança e iniciativa.
Como participar ativamente da educação dos filhos?
De acordo com a autora do Sistema Anglo, existem pesquisas que demonstram que há um melhor desenvolvimento cognitivo da criança a partir dos intercâmbios comunicativos que estabelece com os pais cotidianamente. Isso ocorre em situações que a estimulam a empregar a imaginação sobre objetos, pessoas ou eventos e a efetuar inferências e buscar alternativas na solução de problemas.
Um exemplo apontado por Celia é o de um jogo de xadrez entre pai e filho. O adulto pode manter os processos mentais da criança presos ao presente por meio de perguntas como “qual é o nome dessa peça?” ou “como ela se locomove no tabuleiro?”. Além disso, ele pode chamar a atenção para o fato de que há inúmeras possibilidades para mover as peças nas próximas jogadas, todas importantes, e ajudá-la a antecipar ações e mostrar que falhas ou sucessos são de sua responsabilidade, não podendo transferi-las para o outro.
Algumas dimensões do comportamento paterno foram citadas pela especialista como relevantes para o desenvolvimento da criança. São elas:
- Reforço verbal: consultar a criança em um momento de decisão que pode afetá-la.
- Sensibilidade aos desejos e sentimentos: estimular sua autonomia, mas estar disponível para prestar apoio ou assistência.
- Disposição para atividades práticas: ler para a criança, contar-lhe coisas, fazer comentários sobre o mundo que a cerca, responder e formular perguntas.
- Rotinas cotidianas: procurar fazer com que a vida da criança esteja cercada de aspectos que permanecem constantes, como horários e combinados, mas com certa dose de novidades.
Além disso, é importante pensar em uma educação para a compreensão. A criança precisa compreender tanto o polo planetário, entre os humanos, culturas e povos, quanto o polo individual, das relações privadas entre os próximos. “Compreender inclui necessariamente um processo de empatia, identificação e de projeção. A compreensão necessita de abertura, simpatia e generosidade”, afirma Maria Celia.